Aquilo que muitos terão considerado uma enorme loucura, só possível pela conjuntura política local que na época se vivia cá na terra é visto, nos dias de hoje, seguramente, pela generalidade das pessoas. Refiro-me à coragem que alguém teve nos idos de oitenta do século passado, fazendo algo que, para os mais conservadores e, possivelmente para eles próprios seria impensável, se pensassem que avançavam para uma autêntica nacionalização. Creio mesmo que jamais alguém terá colocado a questão nestes termos. A ser assim, talvez não tivesse acontecido esse acto porventura revolucionário.
Na verdade, ainda que a ideia inicial da construção de um bairro social tivesse, afinal, vindo a ser ultrapassada pela lógica dos acontecimentos, alicerçada, aliás, em interesses bem conhecidos, a "tomada" da Quinta do Arco pelo Município para a tansformar num espaço urbanizável, acabou por consubstanciar aquela que foi, certamente, a maior transformação que Valpaços já sofreu no seu tecido urbano. De Zona de Expansão Urbana apelidaram este pedaço da então Vila e o nome assentou-lhe tão bem que, para além de ainda se manter, provocou uma verdadeira explosão na construção civil da localidade e estimulou os privados a continuar para além dos limites da intervenção iniciada pela edilidade. E os valpacenses orgulham-se, de facto, desta zona residencial e, sobretudo, dos encómios que ouvem, no dia-a-dia, daqueles que por cá passam ou nos visitam.
Mas, logo que a ideia do bairro social foi substituída pela da urbanização camarária com a subsequente venda de lotes em hasta pública, preferentemente a quem necessitava de edificar casa própria, até pela escassez de habitações de renda que ao tempo se fazia sentir, o município criou um regulamento que configurava as condições de aquisição e, naturalmente, as de alienação por parte de quem, por qualquer motivo, o pretendesse fazer posteriormente. Ora, se a memória não me falha, haveria a obrigatoriedade de aquele ou aqueles que não entendessem construir dentro de um determinado período de tempo, entregarem o lote à Câmara Municipal, que poderia colocá-lo, de novo, em hasta pública ou, se assim o entendessem, iniciar a obra de construção civil e prossegui-la até à colocação da primeira placa (percoar-me-ao aqui a falta de rigor técnico), altura em que, então sim!, teriam o direito de fazer a alienação do prédio.
Todavia, como o tempo faz esquecer muita coisa, acrescido do facto de o hábito de ninguém querer chatear-se permitir que se deixe andar, tem sido frequente a constatação de que uma série de lotes em que nunca se esboçou qualquer tentativa de construção, vão passando de mão em mão por preços exorbitantes e, necessariamente, à margem do dito regulamento. Ou seja, as regras foram aplicadas em determinados casos mas, noutros, foram abolutamente esquecidas. Talvez o assunto merecesse uma boa investigação.
Seja como for, passados mais de vinte cinco anos sobre o primeiro grupo de lotes alienados pela autarquia, ainda permanecem alguns à espera que os especuladores possam continuar a ganhar dinheiro à custa do erário público. E quem sabe se não estarão entre aqueles que menos impostos pagam ou que mais depressa lhes fogem, mas que estarão sempre atentos a qualquer oportunidade em que o Estado lhes possa ser verdadeiramente útil, nomeadamente, não abdicando dos serviços públicos.
Alguns desses espaços estão, portanto, exactamente como nessa altura. Melhor, com as chuvas que, finalmente, vieram alegrar os nossos agricultores, transformaram-se em verdadeiros lameiros cuja erva, alguns aproveitam para matar a fome. Lameiros que, afinal, atendendo ao seu valor de mercado, são um verdadeiro luxo. E ainda chamam burros aos que aí vão pastando!
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